O dinheiro vai (praticamente) acabar. Entenda o que você pode fazer a respeito

Imagine sua vida em um futuro não tão distante.

Você acorda às 06:30 da manhã, põe sua roupa de ginástica e se prepara para fazer sua corrida matinal. Antes de sair, você passa na cozinha para comer uma fruta. No exato momento em que se aproxima da geladeira, uma tela se acende na porta do aparelho.
É o seu assistente virtual, que lhe avisa que o leite está próximo de acabar e que há uma promoção no supermercado do seu bairro: geleia de morango pela metade do preço.

Esse assistente virtual, que também se comunica por outros diversos dispositivos (aparelho de som, smartTV, relógio, celular, automóvel…) conhece bem os seus hábitos alimentares e suas preferências. Ele sabe que você adora geleia de morango. O que você faz?

Com um simples comando de voz, você autoriza seu assistente a comprar geleia, leite e algumas frutas e vegetais. Como tudo é feito online, você é informado que a encomenda será entregue até às 9hs. Ótimo, dá tempo de sobra para se exercitar.

O dia está apenas começando e o sol de inverno aquece suavemente o seu corpo, provocando uma sensação agradável à medida que uma brisa leve enche de ar fresco os seus pulmões. Nesse momento você já está no parque, concluindo seus 5km de treino. Você para em frente a um quiosque de água de coco; é hora de se hidratar. 

— Como vai, seu Osvaldo. Tudo bem?

— Melhor impossível. O que vai querer?

— Aquela água de coco sagrada de todas as manhãs.

— É pra já!

Enquanto seu Osvaldo cuida de abrir o coco, você aproxima seu relógio de um leitor visual para efetuar a transação. Um leve apito confirma que o valor foi debitado; seu Osvaldo sorri e lhe entrega a fruta.

Ao voltar pra casa, você encontra com o rapaz do supermercado, que lhe passa a mercadoria e deseja um bom dia. “Que pessoa educada”, você pensa. “Vou solicitar que meu assistente virtual deposite uma gorjeta em sua conta”.

Ainda são as primeiras horas da manhã, mas o dia já começou na sua cidade. A economia está girando. Você está pronto para trabalhar e até esse momento, sem colocar a mão na carteira nem sonhar com dinheiro vivo, você já pagou o supermercado, o coco do seu Osvaldo e a gorjeta do entregador.

Tudo de forma inteligente e virtual. Esse é o futuro das transações. Nele, as notas de papel terão cada vez menos espaço. Utopia, ficção científica? Não, apenas tecnologia. Continue a leitura deste artigo, entenda por que o dinheiro vivo (praticamente) deixará de ser usado e o que você pode fazer a respeito.

Os principais avanços atuais

Segundo o World Payments Report, as operações sem dinheiro vivo cresceram cerca de 11% entre 2014 a 2015, movimentando cerca de U$ 433 bi na economia global. O grande catalisador desse aumento foram os pagamentos mobile, ou seja: compras realizadas diretamente pelo celular. O setor de e-commerce foi amplamente beneficiado por isso, inclusive no Brasil. As projeções para 2019 apontam um crescimento de 16% em relação a 2018.

Combinada aos pagamentos realizados via smartphone, novas tecnologia são responsáveis por avanços que já estão ao nosso alcance. Exemplos?

Em boa parte das corridas por aplicativos (Uber, 99 Pop e Cabify), não há dinheiro envolvido. A relação comercial é intermediada a partir da plataforma das empresas. Rappi e Starbucks oferecem sistemas de pagamento via aplicativos que dispensam a apresentação de cartões (quanto mais de notas de papel). Basta ir à boca do caixa e escanear um QR Code; a transação é debitada no cartão.

Empresas como Samsung e Apple já têm dispositivos semelhantes para compra via smartphone. Em Portugal, há mais de 96 mil terminais aceitando pagamentos via Apple Pay

Em janeiro de 2018, a Amazon inaugurou seu primeiro supermercado; o Amazon Go. Nele não há atendentes nem caixas registradoras. Basta se cadastrar no aplicativo da empresa, pegar os produtos na prateleira e sair. Todas as compras, devidamente registradas por câmeras e sensores, são debitadas no cartão do consumidor.

As tendências para o futuro

Se pensarmos no futuro imediato, a grande aposta do varejo para os próximos anos é definitivamente o QR Code. Um estudo desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) apontou que 82% dos varejistas pretendem adotar aplicativos e QR Codes como meios de pagamento nos próximos 12 meses.

Grandes empresas, como as citadas no tópico anterior, já oferecem esse serviço, o que tende a disseminá-lo entre os consumidores.

Além disso, essas empresas tendem a estimular cada vez mais a adoção dos pagamentos via QR Code, por meio do oferecimento de descontos e participação em programas de fidelidade. O Mercado Pago, por exemplo, firmou uma parceria com grandes redes do setor de alimentação e drogarias para a utilização do citado método. Os clientes terão acesso a diversos benefícios e não serão cobradas taxas aos lojistas até o final de 2019.

Porém, é possível olhar mais além, para os próximos 10 a 20 anos (considerando a velocidade cada vez maior das transformações tecnológicas). As possibilidades são várias:

 

  • autenticação biométrica. Já usada atualmente, tende a se aprimorar e ganhar ainda mais segurança. A fim de garantir transações imediatas e seguras, especialistas falam em reconhecimento pela íris, mapeamento de veias e até análise do batimento cardíaco;
  • wearables. São as chamadas “tecnologias vestíveis”, roupas e acessórios que se conectam à internet e podem ser utilizados para fazer pagamentos. A Visa já lançou no Brasil um relógio para pagamento sem contato, e essa tendência promete se acentuar na próxima década. Com os wearables, não somente o dinheiro vivo e os cartões podem ser dispensados, mas também o próprio celular;
  • criptomoedas. O que antes era uma aposta cercada por dúvidas, hoje é uma realidade. A mais famosa delas é o Bitcoin, que chegou a movimentar mais de U$ 2 bi em um único dia. Porém, há outras criptomoedas disponíveis, como a Ethereum e a Litecoin. Garantindo a segurança de todas elas, há uma arquitetura de rede descentralizada chamada Blockchain, que evita duplicidade de registros e torna os sistemas praticamente à prova de fraudes.

 

Recentemente o Facebook anunciou a criação de sua própria moeda, a Libra. Ela permitirá que os usuários do Whatsapp e do Messenger troquem valores a partir de uma carteira digital. Apoiada por uma rede blockchain desenvolvida pela própria empresa, a moeda quer atender a população dos países de terceiro mundo que não possuem conta bancária, número que chega a 1,7 bilhão de pessoas.

Os benefícios do pagamento digital

Cashless Cities é um estudo de 2016 encomendado pela Visa. Realizado em 100 cidades ao redor do mundo, seu objetivo foi avaliar os benefícios associados aos meios digitais de pagamento.

De acordo com o estudo, a ampliação desses meios de pagamento poderia gerar um ganho de receita de U$ 470 bi, considerando as 100 cidades analisadas. No Brasil, haveria um ganho somado de R$ 13 bi anuais nas economias de São Paulo e Brasília, cidades que foram analisadas pelo estudo.

Ainda de acordo com o estudo, os principais benefícios da redução do dinheiro vivo entre a população seriam:

  • aumento na atividade econômica;
  • maior segurança para a população e para comerciantes, uma vez que dinheiro vivo atrai a ação de criminosos;
  • aumento da produtividade no comércio, pois as rotinas de contagem de células, armazenamento e depósito bancário seriam drasticamente reduzidas;
  • menos sonegação de impostos, pois o dinheiro eletrônico é bem mais fácil de ser rastreado.

Empresas lucram mais

Outro dado apontado pelo estudo. Em São Paulo, as empresas que adotaram meios eletrônicos de pagamento registraram aumento nos lucros que variam entre 27% a 51%. Isso ocorreu em função do ganho de oportunidade proporcionado pelos pagamentos digitais, que atraiu mais clientes ao gerar mais comodidade para eles. Além disso, o menor tempo empregado com o controle das notas permitiu que os colaboradores focassem em atividades estratégicas para as empresas, como otimização do estoque, gestão financeira e relacionamento com clientes.

Dizer que o dinheiro vivo deixará de existir pode parecer um exagero, mas as evoluções tecnológicas e os movimentos de grandes empresas como Apple, Visa e Facebook apontam claramente para uma diminuição considerável do papel do dinheiro no comércio do futuro.

Em face de tantas mudanças, o que o seu varejo pode fazer para estar preparado? Primeiramente, mantenha-se informado e atento. Leia matérias sobre gestão e tecnologia, como as que oferecemos aqui neste blog. Em segundo lugar, leve a sério a inovação digital e a automação financeira. Essa é uma tendência que veio para ficar, e quem a ignorar certamente vai ficar para trás.

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